Planejamento estratégico do Brasil
Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia
Na década de 80 do século passado, assisti, pela
primeira vez, a uma palestra do Professor Waldimir Pirró e Longo. Vibrante,
como em todas as suas palestras, ele buscava provar a viabilidade do Brasil se
tornar uma grande potência.
Utilizando a minha memória, ele argumentava algo com o
seguinte teor (com dados atualizados por mim): o Brasil tem uma extensão
territorial de mais de 8,5 milhões km2; é o quinto maior país do mundo; tem enorme área agriculturável; tem quase
17 mil km de fronteiras com nove países da América do Sul; a costa marítima de
quase 7,4 mil km é voltada para o Atlântico; a Zona Econômica Exclusiva
brasileira é de 3,6 milhões km2, mas poderá ser ampliada para 4,4
milhões km2, em face da reivindicação brasileira perante a Comissão
de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas; o Brasil tem recursos
naturais diversos, incluindo uma das maiores reservas de petróleo do mundo, a
maior reserva de nióbio e reservas consideráveis de todas as fontes geradoras
de eletricidade; possui minérios diversos, muitos dos quais ainda não bem
pesquisados; é grande produtor de ferro, manganês, bauxita e nióbio; o petróleo
do Pré-Sal é a maior descoberta de petróleo do mundo dos últimos 30 anos,
podendo conter até 200 bilhões de barris; conta também com os recursos naturais
da sua área marítima; tem o maior patrimônio biológico do planeta e a maior
disponibilidade de água doce, graças a seus rios e a dois gigantescos aquíferos;
o Brasil tem a insolação necessária para a sua produção agrícola; não tem
ocorrência de grandes intempéries, como vulcões, terremotos, tsunami e
furacões; e possui uma população de mais de 200 milhões de habitantes, falando
a mesma língua e formando um grande mercado consumidor.
Recentemente, por razões de ofício, tive que retornar
à metodologia de planejamento estratégico empresarial. É claro que esta
metodologia foi gerada visando atender às necessidades de empresas, órgãos do
governo, ONGs e outras entidades. Contudo, me atrevo a dizer que ela pode ser
usada para um país, desde que haja o alerta de que não se trata de um plano
nacional de desenvolvimento, nem de um plano de metas. Ainda dentro dos
resguardos que esta ousadia requer, este é um esboço de planejamento que serve
somente para transmissão de ideias.
O único objetivo a ser alcançado, através deste
planejamento, apesar de não ter delegação da sociedade, é a maximização do
bem-estar social. A metodologia é intuitiva, não requerendo grandes explicações
prévias para o leitor, a menos que é composta da identificação dos pontos
fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades do Brasil.
O sumário atualizado da palestra do Professor Pirró e
Longo mostra alguns dos pontos fortes do Brasil, seguindo a citada metodologia.
Listo a seguir os principais pontos fracos do Brasil.
Em primeiro lugar, a elite econômica brasileira que,
com raras exceções, não quer o aumento do nível educacional da nossa sociedade
e a sua conscientização política, para poder continuar maximizando seus lucros.
Além disso, ela não se identifica com a nossa sociedade e, portanto, não possui
sentimentos nacionalistas.
A mídia tradicional (jornais, revistas, tvs abertas e
rádios) representa o segundo ponto fraco e é um instrumento de dominação da
nossa sociedade pelo poder econômico e por poderes estrangeiros. O Judiciário e
o Ministério Público compõem o terceiro ponto fraco. Eles não garantem que,
para todas as situações, a justiça irá prevalecer, o que traz uma intranquilidade
para a sociedade.
O quarto ponto fraco é representado pela classe
política como um todo. Boa parte dos políticos, que são representantes do povo,
só usa seus mandatos para usufruir vantagens pessoais ou beneficiar grupos
econômicos e políticos, que lhes subsidiam. Este fato é consequência do baixo
nível de conscientização política da população, que os elege. Quanto ao quinto
ponto fraco, ele é representado pelos militares brasileiros. Os militares da ativa,
para satisfazer determinação legal, são reservados. Militares reformados têm
maior liberdade de expressar seus posicionamentos. No passado, militares da
ativa também se posicionavam livremente, o que, com razão, não é recomendado.
Entretanto, o conjunto dos militares, ao longo dos
anos, tem sido nacionalista, haja vista as posições do General Horta Barbosa, do
Almirante Álvaro Alberto, do Brigadeiro Montenegro e, mais recentemente, do General
Ernesto Geisel. Por outro lado, os militares reformados, que hoje têm cargos no
Executivo, não demonstraram contrariedade com relação às entregas do patrimônio
nacional, já ocorridas no atual governo. Para respeitar a hierarquia, os atuais
militares da ativa continuam calados. Porem, a inação do conjunto os classifica
como ponto fraco neste planejamento estratégico.
O sexto ponto fraco é o atual Executivo brasileiro. A
elite econômica não teve a compreensão da realidade que nossa sociedade viveria
com a opção escolhida por ela, na eleição para presidente do ano passado. Seu
candidato não pertencia a uma direita civilizada e, sim, a uma direita fascista
e insensível a teses sociais, ambientais e de soberania, haja vista a submissão
do Brasil como colônia dos Estados Unidos. Com tais características, não pode
haver concessões. Neste momento, todas as forças políticas do país, que não
sejam as dele, devem fazer um pacto pela manutenção das conquistas
civilizatórias conseguidas, a duras penas.
Como exemplo, as ameaças que o Brasil sofre são: a
implantação de uma nova ditadura no país; os contratos assinados pelo presente
governo significarem um grande passivo futuro, que terá que ser honrado pela
sociedade; a continuidade do uso de crimes eleitorais, como fake news, abuso do poder econômico,
intimidação de lideranças oposicionistas; a classe média continuar a se aliar,
inexplicavelmente, à elite econômica por medo ou admiração; a permanência da
população com baixo grau de conscientização política, elegendo seus próprios algozes;
a mídia tradicional, sem estar regulamentada, continuar a ser a maior alienadora
da sociedade; e a dominação da política pelo poder econômico transforma parte
dos políticos em seus subordinados.
Chegam à minha mente as seguintes oportunidades para o
Brasil: a mídia alternativa quebra o monopólio da informação, que pertencia à
mídia tradicional; a quase totalidade da elite intelectual e cultural
brasileira é democrática, comprometida com os direitos humanos, o bem estar
social e o direito da sociedade de estar bem informada; entidades da sociedade
civil crescem politicamente com o aumento das agressões às instituições; devido
a manifestações populares pode-se dizer que a sociedade está com melhor compreensão
do que está ocorrendo; no entendimento de alguns juristas, muitos contratos
assinados neste governo são verdadeiros acintes à sociedade brasileira (com vendas
a preços vis, enfim, contratos leoninos) e podem ser revertidos podendo uma das
partes ser classificada como receptadora; políticos de direita, que não agridem
os direitos humanos, não concordam com as práticas e o método do atual
presidente; apesar do ato de destruir estar ocorrendo a galope, o Brasil já
tinha galgado um nível razoável de patrimônio, que não consegue ser destruído
do dia para noite, nem pelo maior dos “exterminadores do futuro”; e o Brasil
pode aproveitar um novo período de “Guerra Fria” para fazer melhores acordos
internacionais, pois o mundo, hoje, não tem só um império, apesar do poder
militar dos Estados Unidos ser incontestável, mas existe também a China, a Rússia,
a Índia, além de outros, que contestam a dominação imperial.
Apesar de ter sido o planejamento a partir de uma só
mente, é possível concluir que, com correções de rumo a serem feitas graças a
uma melhor conscientização política da sociedade, o Brasil pode ser uma nação
bastante acolhedora para todos os seus filhos, enfim, um bom local para se nascer.
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