Não queira viver em um país com crise de abastecimento de petróleo marcada para acontecer
Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia
A cláusula 13.7, relativa ao “Abastecimento
do Mercado Nacional”, mostrada a seguir, foi obtida dos dois modelos de
contrato (consórcios sendo operados pela Petrobras ou não) a serem assinados
entre a ANP e as ganhadoras das licitações sobre o excedente da cessão onerosa.
“13.7. Em
situações de emergência que possam colocar em risco o abastecimento nacional de
Petróleo e Gás Natural, bem como de seus derivados, a ANP poderá determinar ao
Contratado que limite suas exportações destes hidrocarbonetos.”
“13.7.1. Considera-se
situação de emergência aquela assim decretada pelo Presidente da República.”
“13.7.2. A
parcela da Produção com exportação limitada deverá ser direcionada ao
atendimento do mercado brasileiro ou à composição de estoques estratégicos para
o País.”
“13.7.3. A
ANP notificará o Contratado quanto à limitação das exportações com antecedência
mínima de 30 (trinta) dias.”
“13.7.4. A
parcela da Produção sobre a qual incidir a restrição à livre disposição será, a
cada mês, determinada em relação à proporção da participação do Contratado na
Produção nacional de Petróleo e Gás Natural relativa ao mês imediatamente
anterior.”
(...)
Considerando que, se existirem reservas razoáveis de
petróleo no subsolo do Brasil, estas devem garantir a independência ao
suprimento externo por, no mínimo, uns 30 anos. Esta independência é
aconselhável por se estar falando de um contrato com validade de 35 anos, período
no qual, não só o petróleo pode se tornar escasso no mundo, como interesses
geopolíticos poderão tornar sua comercialização difícil.
Implícito está que a garantia citada será a preços
razoáveis e, não, a preços abusivos, que poderão ser encontrados, no futuro
mencionado no mercado internacional.
O mais correto seria a contratação de estudo junto a
uma entidade não envolvida diretamente com a licitação, visando obter na
literatura específica a expectativa de reservas de petróleo do Brasil e do
mundo nos próximos 35 anos, a demanda de petróleo do Brasil e do mundo no período
e as exportações esperadas de petróleo do Brasil no período. De posse destes
dados e com operações aritméticas simples, saberemos quando começará a escassez
interna.
A Cláusula 13.7 dos modelos de contrato citados só se
preocupa com o abastecimento imediato, quando a escassez já está acontecendo, e
não fala sobre o preço do suprimento coercitivo, o que nos leva a concluir que
será o preço vigente na época no mercado internacional. O contrato não proíbe
que o petróleo que será necessário em 2050, por exemplo, seja exportado em
parcelas, desde o ano de 2020 ao de 2049. E isto pode acontecer com a demanda
de petróleo de uma série de anos, como as demandas a partir de 2035, por
exemplo.
Cláusulas idênticas à 13.7 sempre existiram em todos
os contratos de rodadas anteriores. O que há de novo, hoje, é que nossos
governantes falam da privatização da Petrobras, possivelmente para alguma
empresa estrangeira. Neste ramo, não existem empresas privadas brasileiras de
porte. Assim, no futuro, não é garantido que alguma empresa atuante no Brasil irá
garantir o abastecimento do país. Existe nos contratos liberdade total para a
empresa mandar o petróleo por ela produzido para o destino que escolher, a
menos do que reza a cláusula 13.7.
De passagem, este é um argumento que prova a
essencialidade da Petrobras estatal. Aliás, ela é essencial, não só por
garantir o abastecimento, mas também porque é a petroleira que mais compra no
país, inclusive plataforma, é quem contrata engenharia e desenvolvimento
tecnológico aqui, é a que mais emprega brasileiro, é quem descobre petróleo no
Brasil, é quem ganha prêmios da OTC, é a descobridora do Pré-Sal, é um
instrumento à disposição dos governos para aplicação de políticas públicas, que
investe muito em cultura e esporte, enfim, ela é a empresa que faz tudo que a
empresa privada, que a comprar, não fará.
Então, resta a nós, brasileiros em momento de
convulsão política e involução social nos precavermos agora ou participarmos de
leilões futuros de barris de petróleo, que será o mercado internacional, e
vermos o país desabastecido, desprotegido.
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