Até quando vão abusar da nossa paciência?
(veiculado
pelo Correio da Cidadania a partir de 26/12/2021)
Paulo
Metri
Acontecimentos
planejados e condições ideais de eventos aleatórios favoreceram muito o saque
da riqueza nacional, representada pelos recursos naturais, pela infraestrutura hoje
existente e pelo acordo para a apropriação futura dos rendimentos dos negócios.
O sucesso dos conservadores foi imenso e, por isso, todos os atos neoliberais,
principalmente aqueles após o ano de 2015, devem ser bem estudados, visando a edição
de atos revogatórios.
O casamento de três
crises contribuiu muito para a construção do caos perfeito: a crise econômica,
a crise sanitária e a crise moral. Mesmo
sendo competentes, muitos dos pretensos destruidores da nossa Nação, como os da
“Ponte para o Futuro”, não planejaram e nem executaram o caos com tanta
perfeição. Nossos recursos naturais e nossa infraestrutura já construída estão
sendo abocanhados por empresas do exterior. O mercado consumidor brasileiro,
que chegou a ser pensado, durante a Constituição, como pertencente ao
patrimônio do Estado brasileiro, hoje, está infestado de empresas estrangeiras
auferindo muito lucro, cuja maior parte é remetida para o exterior.
O planejamento da
destruição incluiu uma ação coordenada de parte do Judiciário, de grande ala do
Congresso Nacional e de políticos em geral, de entidades empresariais, da mídia
do capital, de muitos dos militares reformados e de alguns da ativa, sempre
mais reservados. As ações de dominação entre Estados Nacionais são planejadas e
coordenadas do exterior por quem se beneficia com a perda de soberania do
Estado colonizado. Sofremos uma Guerra Híbrida, da qual saímos perdedores.
Frequentemente, durante a Guerra Hibrida, ocorrem acusações falsas de corrupção
de agentes do Estado, podendo existir também acusações verdadeiras. Contudo, as
falsas servem de pretexto para escamotear o roubo da soberania e de tudo mais
acarretado por sua ausência.
Agentes do Estado,
como juízes, fiscais de tributos, policiais e militares, se forem desonestos, serão
exemplos assaz danosos para a sociedade, porque eles têm grande efeito
multiplicador. Devem estar conscientes dos seus papeis na sociedade e, por
isso, bem remunerados. Contudo, se qualquer um deles for provado ser corrupto
ou parcial, deve ser exemplarmente punido.
Voltando ao tema
principal - O que aconteceu no Brasil, no
passado recente? – e me atendo à questão do petróleo, posso afirmar que o
setor sofreu uma mudança silenciosa e profunda, muito provavelmente comandada
do exterior. A constatação visual das áreas concedidas ou entregues através do
contrato de partilha, desde antes da descoberta do Pre-Sal aos dias atuais, é
suficiente para embasar esta tese. Isto porque a ANP publica, periodicamente, o
que pode ser chamado de o “mapa do
entreguismo”, que mostra todas as áreas que já foram entregues para
exploração e produção de petróleo, não importando o modelo de contrato. E cada
nova empresa que, nos leilões, arremata uma área ganha uma cor diferente das
outras do mapa. E, assim, basta olhar para o mapa dos dias atuais para ver o
lindo colorido dele.
Se estas empresas
pagassem tributos razoáveis sobre suas produções não haveria o que reclamar, o que
infelizmente não é o caso. Um estudo do Senado Federal fala sobre renuncia
fiscal de R$1 trilhão durante 25 anos. A notícia pode ser encontrada no
endereço: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/06/22/pais-tera-perdas-de-mais-de-r-1-trilhao-com-isencoes-a-petroleiras-diz-consultor
Conceitos errados
subsidiaram decisões importantes desde o governo FHC. O Monopólio Estatal do
Petróleo foi “flexibilizado” (leia-se
“extinto”) baseado na premissa: “Um monopólio no setor de petróleo, quer seja
privado ou estatal, produz derivados caros porque não há competição e a empresa
monopolista exerce seu poder de mercado”. Esta afirmação esquece que o
objetivo principal de uma estatal pode não ser a maximização do lucro, que é o
objetivo preponderante da empresa privada.
A verdade difícil de
acreditar é que muitos dos governos, desde FHC, devido a condições contratuais
redigidas à época, transferiam nosso petróleo para empresas estrangeiras sem
grande ganho para a sociedade brasileira, que poderia ocorrer através de
tributos, cotas de conteúdo nacional, encomendas postas aqui de P&D e de
engenharia, e geração de empregos no país.
Além disso, partiu-se
de outro conceito neoliberal, cuja a exequibilidade é questionável, para
fundamentar o modelo de exploração e produção do petróleo brasileiro. Trata-se
da aceitação da premissa que, “é
possível, na economia, existir a competição perfeita”. Sobre ela, não
existe grande esforço nem dos próprios agentes envolvidos, tanto que é
conhecida a afirmação: “Os empresários
aprovam a competição imperfeita desde que eles sejam os beneficiários da
imperfeição.”
Estão abusando da
nossa paciência, pois, de início, com a profusão de notícias falsas, muitos de
nós não entendíamos o que se passava. Mas, a verdade veio à tona e não adianta
mais os falsários continuarem com suas narrativas. Atualmente, sabemos que as
petrolíferas estrangeiras estão levando nosso petróleo e deixando quase nada de
contribuição para o desenvolvimento do Brasil. Sabemos que órgãos do Estado
brasileiro foram coniventes com esta apropriação indébita. Que muito ativo do
setor do petróleo foi vendido a preço vil, podendo, por isso, ser recuperado. Sabemos
que empresas sem compromisso ético com a sociedade brasileira começaram a atuar
aqui com o propósito único de usufruir do butim do patrimônio nacional. Agora,
sabemos que elas sempre atuaram apostando na inocência do povo, que, hoje, está
alerta.
Um novo futuro nós
espera e os tribunais a eles. A mídia corrupta, anestesiadora do povo, não
consegue mais ludibriar. Não queremos reparação, apesar de merecermos, queremos
novas condições, novos rumos que já deveríamos estar desfrutando. Trata-se da
correção de erros impostos pelo complô citado. Assim, não irão mais abusar da
nossa paciência.
Paulo
Metri é conselheiro do Clube de Engenharia
19/12/2021
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