Abuso da nossa paciência, nunca mais!
(Veiculado pelo Correio da Cidadania a partir de 11/01/2022)
Paulo
Metri
Em artigo anterior
(“Até quando vão abusar da nossa
paciência?”, veiculado neste Correio da Cidadania a partir de 23/12/21),
foi dito: “sabemos que as petrolíferas
estrangeiras estão levando nosso petróleo e deixando quase nada de contribuição
para o desenvolvimento do Brasil, sabemos que órgãos do Estado brasileiro são
coniventes com esta apropriação indébita, que muito ativo do setor do petróleo
foi vendido a preço vil, podendo, por isso, ser recuperado, sabemos que
empresas sem compromisso ético com a sociedade brasileira começaram a atuar
aqui com o propósito único de auferir muitos lucros, ... sabemos que sempre
atuaram apostando na inocência do povo, que, agora, está alerta”.
Um novo futuro nos
espera e os tribunais a eles, os inimigos da nossa sociedade. A mídia corrupta,
anestesiadora do povo, não conseguirá mais ludibriar. Queremos uma mídia que
mostre todos os ângulos de análise de um fato, que dê informação! Não queremos cobrar
juros na reparação, apesar de merecermos. Queremos novas condições, novos rumos
que já deveríamos estar desfrutando. Trata-se da correção de erros impostos. Muitos
dos quais tiveram a participação consciente de brasileiros, traidores de seus
irmãos.
Um novo Brasil irá emergir
desta catástrofe. Um novo grupo de empresários com amor a sua terra. Uma nova
classe política, consequência da nova consciência da sociedade. Novos militares
que tenham a única tarefa de dissuadir inimigos externos a nos invadir, que não
queiram impor a lei e a ordem a nacionais, segundo a sua ótica. Novas Polícias
que se reformularão para serem aprovadas pela sociedade como um todo, não só
por uma classe. Nova comunicação de massa sem mentiras, sem domínio do capital,
com a tarefa exclusiva de bem informar. Com tudo isto acontecendo, a nossa
paciência não estará mais sendo abusada.
Outras sociedades
conseguiram atingir altos níveis de maturidade política, onde este futuro ideal
está mais próximo. Foi uma conquista consumidora de tempo e de esforço coletivo.
Contudo, como primeiro passo, a sociedade precisa estar consciente da importância
da sua atuação política.
Trata-se, portanto,
de uma mudança da compreensão da política pelo conjunto da sociedade. Algo que
consome muito diálogo e disposição para o acerto. A experiência continua de
escolhas políticas é primordial. Ouve-se que gerações que participaram de
guerras, dado os efeitos destrutivos delas, transmitem para as gerações seguintes
o horror que elas representam. Esta transmissão de percepção é mais forte, por
exemplo, que a transmissão consequente da leitura sobre o mesmo drama.
Assim, o crescimento
da politização da sociedade pode ser considerado como o primeiro degrau a ser
galgado para o sucesso de qualquer desenvolvimento social. Sendo a
incompreensão política um gargalo, pode-se propor um “mutirão para
conscientização política da população”, obviamente sem partidarização política.
Este mutirão consiste, já que há falta de maior debate político na sociedade, em
esclarecimentos básicos que devem nortear as decisões, por exemplo, mostrando que
notícias falsas são veiculadas com interesse de enganar a população. Não se
deve confundir este debate com aquele dos candidatos a postos eletivos.
Um exemplo atual é o
fato que os preços dos derivados são definidos pela Política de Paridade de
Importação, completamente irracional e lesiva aos interesses nacionais. A mídia
busca impô-la como correta e tem o beneplácito do próprio governo. Assim, a
Petrobras, atualmente, só representa interesses de grupos econômicos
estrangeiros e, subsidiariamente, do atual governo brasileiro, que busca
diminui-la, prejudicá-la, enfim, extingui-la. Não é soberano estar integrado à
economia mundial como colônia, sem capacidade para defender os verdadeiros interesses
nacionais.
Certa vez, um jovem
me perguntou: “Por que ser soberano?”
Meu primeiro pensamento foi ler para ele o poema de Bertold Brecht “O analfabeto político”. Mas, seria
agressivo porque Brecht parece ter perdido a paciência ao redigir este poema. A
resposta que encontrei, à hora, foi “sendo
soberano você terá possibilidade de tomar a medida que melhor beneficia a
sociedade brasileira”. Até hoje, acho que foi uma boa resposta. Poderia ser
dito, também, que: “a soberania de um
Estado nacional pode ser comparada ao ‘leitmotiv’ (motivo condutor) que
transforma um acalentado aprazível futuro em realidade”.
Neste ponto surge a nova
pergunta: “O que é ser nacionalista?
”, cuja resposta é bem mais simples: “trata-se
daquela pessoa que protege a sociedade da sua pátria”. Não confundir esta
definição com “proteger a pátria”,
que se trata de “proteger o espaço físico
da pátria e as benfeitorias nela existentes, sem preocupação com os seres
humanos que nela habitam”.
O Brasil, hoje, já
poderia fazer parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo),
o que seria bom para a sociedade brasileira, pois o país teria uma maior
capacidade de barganha em negociações internacionais. Mas, sorrateiramente, o
Brasil “salvou” o mundo de um novo
choque de petróleo com o seu salvamento das grandes petrolíferas estrangeiras
que começavam a ficar com suas produções futuras comprometidas pelo baixo nível
de reservas. Até petrolíferas menores se beneficiaram do “roubo” do petróleo
nacional, como é o caso da petrolífera de Portugal que, graças aos nossos
neoliberais desprovidos de qualquer amor e respeito à sociedade brasileira,
entregaram reservas que equivalem a dezenas de anos de abastecimento de
Portugal. Deve ter sido pela saudade da colonização portuguesa.
O Brasil tem, no
mínimo, 150 bilhões de barris de reservas petrolíferas, que não se fala no país
para a sociedade não saber da sua riqueza. Desta reserva, uma boa parte já foi entregue
em condições desfavoráveis pelos governos Temer e Bolsonaro. Resta, agora,
dependendo do caso, simplesmente anular licitações e recuperar o bloco, ou
questionar na Justiça estas licitações. Sabe-se que interpretações errôneas
colocaram blocos em licitações para a concessão, quando deveriam ser utilizados
os contratos de partilha. Outras imprecisões técnicas foram admitidas com
prejuízo para a sociedade brasileira. Enfim, deve-se fazer uma revisão
cuidadosa neste rico setor.
É primordial que
esta conscientização política não procure convencer o cidadão que soluções a
direita ou a esquerda, conservadoras ou progressistas, privatistas ou
estatistas são as ideais para solucionar os problemas da nossa sociedade.
Algumas podem até ser boas soluções, mas são questões muito polémicas, sobre as
quais as pessoas divergem, honestamente, muito. Entretanto, o entreguismo deve
ser combatido por todos, assim como o nacionalismo deve ser apoiado por todos.
Outra postura que deve ser consensual é a definidora do nosso grau de
civilidade. Apoio à misoginia, homofobia, racismo, fascismo e a outras
deformações humanas devem ser usadas como teste preliminar para eliminação de
candidatos a cargos políticos.
O cidadão comum,
aquele que é manipulado pela mídia e alvo das fake news, não precisa ser, necessariamente, diplomado ou culto
para ser politizado. Nem mesmo grande estudioso de política. Nem profundo
conhecedor da legislação que rege os poderes e suas relações. Basta ter
convicção do que é bom para o próximo e para si próprio e procurar esclarecer
dúvidas que surjam. Estar consciente que forças poderosas usufruem da
ignorância política da grande massa. Em geral, elas controlam os meios de
comunicação tradicionais e, por isso, não é fácil contradizê-las. Mas suas
contradições, às vezes, emergem e a verdade prevalece.
Este novo agente
social precisará ser solidário e perseverante. Analisar as diversas propostas futuras
de país com bom senso e debater causas e consequências. Ao passar a ser um
agente da conscientização política da sociedade, estará ajudando ela a trazer
um futuro melhor para todos. Enfim, ele deverá trazer maior nexo para as
escolhas.
Paulo
Metri é conselheiro do Clube de Engenharia
03/01/2022
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