A ocasião faz o aproveitador
Paulo Metri
Descrevo com minhas
palavras o que entendi de um trecho da fala do professor de Direito da USP Gilberto
Bercovici, em uma “live” recente do
Clube de Engenharia. “Os arrematadores de
ativos da antiga Petrobras, repassados a preços vis, igualam-se aos
receptadores de produtos roubados”.
Esta tese pode ser
expandida aos dividendos que a Petrobras veio a distribuir para os seus
acionistas, recentemente. Sabia-se que estes seriam extremamente compensadores.
Ter ações da empresa, naquele momento, era análogo a ter um bilhete a ser
premiado na próxima extração da loteria.
Dentre todos que se
locupletaram com a barbada, tinham pessoas de todos os tipos, inclusive algumas
com discursos bem nacionalistas, que desejavam usufruir, como diziam, da sua
capacidade de análise. Mas, ser nacionalista inclui também não prejudicar a
sociedade brasileira em nenhuma circunstância.
Os recursos, que
permitiram a “farra do boi“, vieram
da cobrança exorbitante da venda de gás de botijão, diesel e gasolina, sendo
que o gás de botijão é um consumo exclusivo dos mais pobres da sociedade. O
diesel atinge várias classes sociais, à medida que, no Brasil, transportar
significa via rodovia consumindo basicamente diesel. Finalmente, a gasolina
significa os consumos das classes média e média alta.
Neste contexto, há
grande dificuldade de identificação dos lesados, significando que não se pode os
ressarcir. Então, primeiramente, proponho que os valores pagos pela Petrobras a
título de últimos dividendos sejam devolvidos à empresa por terem sido pagos
com recursos da receptação de roubo praticado junto à sociedade.
Depois, restaria o
que fazer com os recursos devolvidos, porque eles também não pertencem à
Petrobras. A proposta, com a falta de ideia melhor, seria que ela depositasse estes
valores integralmente em um fundo a ser administrado pelo BNDES com o objetivo de
recomprar as ADR da empresa, que circulam na Bolsa de Nova Iorque e a obrigam a
seguir a legislação estadunidense. Obviamente, a política de paridade de preços
dos derivados aos do mercado internacional não seria mais adotada.
Muitos destes
receptadores dirão que já consumiram o dinheiro, o que pode ser verdade.
Entretanto, perdoá-los é premiar aqueles que exploraram os consumidores de
derivados, inclusive os consumidores pobres. É preciso deixar claro que ser
nacionalista não exclui ser ético.
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