25 janeiro 2022

Pobre de direita

Paulo Metri

 

Esta expressão lembra o “silêncio ensurdecedor”, ou seja, um oximoro, que se trata, segundo o dicionário, de “uma combinação engenhosa de palavras cujo sentido literal é contraditório ou incongruente”. Entretanto, infelizmente, o “pobre de direita” é real. Graças ao poder econômico corruptor, a marqueteiros, que ajudam no trabalho sujo, à mídia convencional aliada do poder econômico e à falta de educação política do povo, seus próprios futuros algozes são eleitos como seus representantes.

Em diversos países, este fato acontece, mas a intensidade com que acontece no Brasil é muito danosa exatamente para aqueles de escolha pobre. Quanto mais carente a população, mais dependente dos que lhe distribuem migalhas e mais fácil de ser enganada, o que nos leva a um ciclo de horror, pois os eleitos, além de não melhorarem a vida dos seus eleitores, não irão os conscientizar politicamente.

Infelizmente, a escolha de um executivo público ou legislador é mais uma decisão emocional do que racional. Se assim não fosse, muitos políticos, depois de identificados como péssimas escolhas, não seriam mais eleitos. Infelizmente, este processo doloroso de aprendizado, que estaria ocorrendo por “tentativa e erro”, se existe, é muito lento.

A tese freudiana, que o jovem precisa “matar a figura do pai” para poder crescer, é adaptada na política como a necessidade de se trazer o novo, a cada eleição. O interessante é que quem usa esta tese, depois de alguns anos, prova do seu próprio veneno. Existem outras teses usadas, recursivamente, nas eleições por trazerem sempre votos, quer sejam verdadeiras ou mentirosas. Este é o caso, por exemplo, de acusar o adversário de corrupto.

Fazendo um corte na linha de pensamentos, temos que reconhecer que a perspectiva de uma vida cheia de confortos e satisfações é extremamente atrativa para um mortal perdido no mundo sem saber o que veio fazer aqui. O que é esquecido é que a “brincadeira” de acumular renda e riqueza, na maioria das vezes, vem acompanhada do empobrecimento e do aumento da carência de outros humanos.

Assim, é trazida a questão da atratividade do socialismo frente ao liberalismo econômico. O socialismo pode ser visto como um seguro dos integrantes da sociedade. Para sustentar esta tese, vai-se trabalhar com uma das diversas propostas de sistema econômico com preocupação socialista. Nesta proposta, a ordem econômica do país continua sendo capitalista, mas empresas e os donos do capital são taxados pesadamente e o dinheiro arrecadado é devolvido à sociedade em serviços. Com isso, estão garantidas escolas para todas as crianças, serviços médicos para quem precisar e velhice digna.

Já o liberalismo econômico oferece aos cidadãos uma penca de oportunidades, na qual um elemento pode se dar muito bem ou muito mal. Como a priori, ele não sabe o que acontecerá, ele deveria optar pelo caminho seguro do socialismo. Mas, com a esperança de se dar muito bem na roleta liberal, ele se atira nela irracionalmente e, dai, nasce o pobre de direita. Na maioria das vezes, quem toma esta decisão perde.

Afirmam, também, que o pobre de direita seria movido pelo prazer sórdido de recriminar os próprios oprimidos, dos quais ele faz parte. Seria outra versão do capitão do mato sem compensação alguma, aparentemente. Seria movido por distúrbio psíquico?

Notar que, na história da caixa de Pandora, ela libera, ao abrir sua caixa, todos os males que afligem a humanidade, como as guerras e as doenças. Inclusive males que estão na raiz da explicação do pobre de direita, como a necessidade de dominação do outro.

Curiosamente, ela liberou também para a humanidade a esperança, que é o pior dos males, pois prolonga o sofrimento da espécie.

 

19/10/2021