Democracia e fraude
Paulo Metri
Fala-se em democracia
sem a compreensão verdadeira do que se fala.
Não existe, nunca existiu e nunca existirá a democracia perfeita, pois
ela não pode ser gerada a partir de homens e mulheres imperfeitos.
Se considerarmos
esta “democracia plena” como um ponto focal, ou seja, um norte inatingível, mas
que nos baliza, então, há nexo. Países podem possuir graus elevados de
democracia, mas sem serem perfeitas.
O grau da
democracia de um país depende de inúmeros fatores, tais como a qualidade das informações
entregues à sociedade, o nível de politização da sociedade, a tradição de
debates políticos, o combate às fake news
e o culto ao bem coletivo.
Quando Brizola
lembrava a necessidade de existir também uma “democracia econômica”, utilizava
esta expressão para propor ênfase na inclusão social. Outra leitura desta
mensagem é que, em uma democracia, não só o voto consciente é direito de cada
cidadão, mas três pratos de comida ao dia também são.
O grau de democracia
de um país será muito baixo se fraudes eleitorais existirem. Milicianos, à moda
dos “coronéis” de zonas rurais no século passado, ao controlar agressivamente o
voto dos eleitores, realizam fraudes. Religiosos que pregam que o oponente a
determinado candidato, indicado por eles, é o próprio “coisa-ruim”, são
fraudulentos.
As fraudes
podem ocorrer na apuração manual de votos ou na eletrônica. A fraude na
apuração manual é nada sofisticada, pois mesários e fiscais corrompidos mudam “na
mão grande” o número de votos de candidatos. Os mais velhos devem se lembrar de
que, no passado, havia muitas reclamações sobre a contagem de votos. Na
apuração eletrônica, apesar da Justiça Eleitoral buscar minimizar a
possibilidade de ocorrerem fraudes na transferência dos votos ou no programa
instalado nos computadores das urnas, esta possibilidade existe.
O manancial
de esquemas fraudulentos é imenso, todos visando corromper a democracia para se
atingir o poder, que leva à riqueza, à revelia do que seria o voto popular
consciente. Novas técnicas sofisticadas de indução fraudulenta do voto são
dissecadas no documentário “O dilema das
redes”, disponível na internet.
Também, a
informação correta para o eleitor é imprescindível em uma democracia. A
manipulação das informações é também uma fraude. Canais de mídia são, na
realidade, instrumentos de manipulação inconsciente da sociedade. Por tudo
isso, desconfie quando lhe disserem que determinado país é democrático.
Não posso
concluir sem dizer que há algum grau da democracia em Cuba. Alguns leitores podem
estar perguntando: “Com partido único?” Posso atestar que, lá, além das pessoas
terem bom nível cultural, têm alto grau de politização e existe debate na
população, mesmo com a condição adversa do seu regime viver, há mais de 60
anos, sob um boicote desumano da maior potência da Terra. A população não se
rebela contra o regime e seus dirigentes, por não os identificar como culpados.
Novembro de 2020
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