Os dias depois de amanhã
Paulo
Metri
Em 2 de outubro
próximo, pelo que as pedras movimentadas recentemente nos tabuleiros político,
econômico e social, pelo desempenho dos dois únicos candidatos competitivos e
pelas pesquisas de opinião, Lula sairá vitorioso já neste primeiro turno. São
favas contadas. Mas, se também não forem, não quero nem discutir.
Desejo me ater ao
que acontecerá nos dias do novo mandato de Lula, ou seja, durante os quatro
anos, após o 1o de janeiro de 2023. Há certa precipitação da minha
parte, mas, posso garantir que o assedio do capital já deve ter ocorrido, há
algum tempo. De novo, as palavras “centrão”
e “governabilidade” serão ouvidas a
exaustão.
Betinho dizia que “quem tem fome tem pressa”. Ele lutava
por um Natal sem fome. Nós conseguimos chegar a todos os dias do ano sem fome.
Mas, regredimos e, hoje, diariamente, a fome está na nossa calçada.
Obviamente, Lula
dará prioridade para acabá-la, por sinal pela segunda vez, o que é muito justo.
O velho refrão volta a ser citado: “O
presidente terá que formar uma base parlamentar.” Sugiro ao presidente que,
se algum canalha quiser se aproveitar da dificuldade criada para oferecer
facilidade, coloque-o em confronto direto com a própria sociedade, o que será
benéfico também para esta, pois estará sendo politizada.
A penetração atual da
mídia social é a grande vantagem deste novo mandato. Uma comunicação direta do
presidente com a sociedade sem censores, com menos filtros e interferências
tendenciosas, é alvissareira. O desenvolvimento da tecnologia, mais uma vez,
vem ao encontro da sociedade. O vencedor do pleito usou muito a tática de
conversar frequentemente com a sociedade.
A decisão mais
difícil que Lula terá que tomar, em todo seu novo mandato, ocorrerá no primeiro
momento, se já não ocorreu. Trata-se do velho “honrar contratos”, corroborado pelo adendo, que diz: “contratos estes que são atos jurídicos
perfeitos”. A minha posição sobre essa questão é simples. “Podem ser juridicamente perfeitos, mas são
perfeitos social e eticamente?”
Se, hoje, uma
expressiva maioria dos eleitores acata a tese que não existiram “pedaladas fiscais” e este foi o
argumento utilizado para usurparem o mandato presidencial, e como Temer, dolosa
ou culposamente, foi o maior usufrutuário deste golpe, ele pode ser considerado
como principal usurpador do mandato presidencial.
Não venham me dizer,
encarecidamente, que ele foi eleito para substituir a presidente em caso de
vacância do cargo. Todos sabem que Dilma não recebeu votação expressiva de “eleitores do Temer”. Ele foi o poste
encontrado para fechar a chapa junto aos integrantes do “balcão de negócios” da eleição de 2014.
Assim, as decisões socialmente
mais impactantes tomadas no período do principal usurpador estão sub judice e
podem ser revistas. Senão, por que existem decisões judiciais que são revogadas
depois de serem constados erros? Por que os processos contra Lula foram todos
anulados? Por que os carrascos argentinos foram julgados e muitos condenados a
prisão perpétua? Por que Chávez conseguiu renegociar contratos de exploração de
petróleo com petrolíferas estrangeiras, assinados pelo seu antecessor, que eram
danosos para a sociedade venezuelana?
Ninguém garante que
muitas petrolíferas beneficiadas com a isenção de pagamento de tributos pela
vida útil de determinados campos precisavam do incentivo fiscal. Pelo cálculo
de técnico da Câmara dos Deputados, a evasão de tributos durante a vida útil
dos campos beneficiados é da ordem de um trilhão de reais.
Sei que sou uma das poucas vozes, mas insisto em ecoá-la com todo o ar dos meus pulmões: “É preciso rever muitas das reformas desta época, incluindo a trabalhista e a previdenciária, licitações da ANP, a privatização da Eletrobrás, o saqueio do patrimônio da Petrobrás em diversas áreas, et caterva”. Para isto, é preciso eleger deputados e senadores comprometidos com a sociedade, que formarão a base de apoio do presidente, a sua sustentação política.
23/09/22
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