12 fevereiro 2022

Sinuca de bico Alckmin

Paulo Metri

Primeiramente, enunciamos o problema. O pré-candidato Lula lançou sua intenção de ter Alckmin como vice na sua provável chapa.  Como este político foi uma das lideranças do PSDB, tendo sido, inclusive, candidato a presidente por este partido, o eleitorado de mais idade não esquece o governo deste partido durante oito anos, com erros e o grande acerto da estabilização monetária. Consta, a favor do Alckmin, o fato que foi um constituinte com boas posições. Porém, durante seu mandato como governador de São Paulo, sofreu acusações. Concluindo o enunciado, sem levar em conta o vice, muitos eleitores votariam, dentre os candidatos existentes hoje, em Lula. Contudo, surgiu a questão: eles continuam querendo votar em Lula, sendo a chapa Lula com Alckmin?

Esclareço que não sou filiado a nenhum partido, mas me considero de esquerda. Salvo melhor juízo, a inclusão de Alckmin na chapa como vice significa um aumento da probabilidade de vitória de Lula, o que permitirá a recuperação da “terra arrasada” deixada pelo inominável, além da expansão de metas econômico-sociais. Se a análise fosse restrita a esta consideração, a maioria seria a favor deste casamento político.

Acontece que existe um tema com grande impacto econômico e social, durante muitos anos, que é escondido pela mídia de direita e pouco identificado pelos canais alternativos de esquerda. Por esta razão, busco conscientizar os leitores que há a necessidade de um posicionamento explícito de todos os candidatos sobre o tema, antes da eleição.

Este tema é o Pré-Sal, uma riqueza de, no mínimo, 10 trilhões de dólares, utilizando como preço do barril, em média, durante os 30 anos estimados de produção, em torno de 60 dólares, valor bastante conservador. O Pré-Sal pode alavancar e manter um alto desenvolvimento econômico e social, se sua exploração e utilização forem bem arquitetadas.

É difícil transmitir a riqueza que o Pré-Sal representa. Tento transmitir lembrando que um dos fatores que impulsionou o passado desenvolvimento estadunidense foi exatamente o uso do petróleo próprio na sua economia e para a sua exportação. Os Estados Unidos foram, durante um período, o maior exportador de petróleo do mundo.

O Brasil é rico em recursos minerais, nos potenciais hídrico, eólico e solar, na disponibilidade de água potável, em grandes áreas agriculturáveis, em bons níveis pluviométricos e, assim, por diante. Mas, certamente, o petróleo é um dos bens mais valiosos. Não foi sem razão que o Pré-Sal já foi chamado, em campanha política, de “o passaporte para o futuro”. Futuro de riqueza econômica e social.

Contudo, a notícia triste é que blocos promissores de diversas áreas, inclusive do Pré-Sal, já foram repassados em leilões para petrolíferas estrangeiras, deixando de virem a beneficiar a sociedade brasileira.

Lula já provou, através da luta para a aprovação, no final do seu segundo mandato, do projeto que estabeleceu o “Contrato de Partilha” para áreas extremamente promissoras, inclusive a do Pré-Sal, que ele valoriza e considera como grande trunfo para o desenvolvimento.

Para registro em ata, nos governos da Dilma, quando ela já estava politicamente enfraquecida, do Temer e do inominável, o projeto do Contrato de Partilha, recém aprovado no governo Lula, foi todo desfigurado, deixando de proteger nossa sociedade.

Dependendo do eleito para presidente, este tema traz um de dois possíveis futuros bem diferentes: um danoso para a sociedade e outro muito benéfico. Por isso, ele tem relevância ímpar, exigindo que todos o analisem. Adianto que os candidatos de direita, quando não tergiversam, tentam fugir dele como o diabo foge da cruz.

Na hipótese da chapa Lula e Alckmin vier a ganhar a eleição e se o vice vier a substituir o presidente por um razoável período de tempo, resta saber como Alkmin se comportará. Deixo claro que, infelizmente, apesar do nosso desejo contrário, fatalidades acontecem.

Enfim, seria imprescindível Alckmin se posicionar sobre estas áreas promissoras de petróleo, que hoje se confundem com o Pré-Sal, mas que no futuro podem ser bem maiores, e que significam resumidamente a nossa felicidade ou a nossa profunda tristeza futura.

Então, a proposta para obter maior clareza com relação ao que se compromete o candidato, antes do eleitor botar o voto na urna e, assim, evitar dissabores futuros, resolve a sinuca de bico.

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07 fevereiro 2022

A ocasião faz o aproveitador

Paulo Metri

Descrevo com minhas palavras o que entendi de um trecho da fala do professor de Direito da USP Gilberto Bercovici, em uma “live” recente do Clube de Engenharia. “Os arrematadores de ativos da antiga Petrobras, repassados a preços vis, igualam-se aos receptadores de produtos roubados”.

Esta tese pode ser expandida aos dividendos que a Petrobras veio a distribuir para os seus acionistas, recentemente. Sabia-se que estes seriam extremamente compensadores. Ter ações da empresa, naquele momento, era análogo a ter um bilhete a ser premiado na próxima extração da loteria.

Dentre todos que se locupletaram com a barbada, tinham pessoas de todos os tipos, inclusive algumas com discursos bem nacionalistas, que desejavam usufruir, como diziam, da sua capacidade de análise. Mas, ser nacionalista inclui também não prejudicar a sociedade brasileira em nenhuma circunstância.

Os recursos, que permitiram a “farra do boi“, vieram da cobrança exorbitante da venda de gás de botijão, diesel e gasolina, sendo que o gás de botijão é um consumo exclusivo dos mais pobres da sociedade. O diesel atinge várias classes sociais, à medida que, no Brasil, transportar significa via rodovia consumindo basicamente diesel. Finalmente, a gasolina significa os consumos das classes média e média alta.

Neste contexto, há grande dificuldade de identificação dos lesados, significando que não se pode os ressarcir. Então, primeiramente, proponho que os valores pagos pela Petrobras a título de últimos dividendos sejam devolvidos à empresa por terem sido pagos com recursos da receptação de roubo praticado junto à sociedade.

Depois, restaria o que fazer com os recursos devolvidos, porque eles também não pertencem à Petrobras. A proposta, com a falta de ideia melhor, seria que ela depositasse estes valores integralmente em um fundo a ser administrado pelo BNDES com o objetivo de recomprar as ADR da empresa, que circulam na Bolsa de Nova Iorque e a obrigam a seguir a legislação estadunidense. Obviamente, a política de paridade de preços dos derivados aos do mercado internacional não seria mais adotada.

Muitos destes receptadores dirão que já consumiram o dinheiro, o que pode ser verdade. Entretanto, perdoá-los é premiar aqueles que exploraram os consumidores de derivados, inclusive os consumidores pobres. É preciso deixar claro que ser nacionalista não exclui ser ético.